Confrontos entre partidários e opositores ao governo da Nicarágua já deixaram pelo menos quatro mortos e dezenas de feridos desde sexta-feira (13). Os confrontos ocorreram em meio à greve geral de 24 horasdeflagrada para exigir a saída do presidente Daniel Ortega.
Um policial e um civil morreram no bairro de Monimbó, no sul da cidade de Masaya, que teria sido atacada com “armas de grosso calibre” por forças ligadas ao Ortega, segundo Álvaro Leiva, da Associação Nicaraguense dos Direitos Humanos (ANPDH).
Outros dois manifestantes morreram em um ataque das forças do governo da Nicarágua contra uma igreja na capital Manágua, onde estavam entrincheirados dezenas de estudantes desde a tarde de sexta-feira, informou a Igreja Católica.
Além dos dois mortos, o ataque contra os estudantes deixou cerca de 20 feridos. Segundo a mídia local, os estudantes morreram baleados na cabeça, um dentro da igreja e o outro atrás de uma barricada.
Neste sábado (14), os estudantes deixaram o local sob escolta da igreja.
“Pedimos a Deus que nos acompanhe. Vamos salvar os meninos”, declarou o núncio apostólico Stanislaw Waldemar Sommertag, ao partir escoltando os ônibus que levavam os jovens da paróquia da Divina Misericórdia à Catedral de Manágua.
Libertados com a mediação da Igreja católica, os jovens agradeciam, agitavam bandeiras da Nicarágua e, com o punho elevado, suadavam as centenas de pessoas na rua, que os ovacionavam gritando “Vivam os estudantes”. Os carros comemoravam também com um buzinaço.
Entrincheirados
O cerco à igreja da Divina Misericórdia, no sudoeste da capital, começou na noite de sexta-feira, depois de um ataque de policiais e paramilitares à Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN), ao lado do templo, para onde muitos estudantes fugiram.
Pouco depois do meio-dia de sexta-feira (no horário local), policiais antidistúrbios e paramilitares invadiram a Unan para desalojar os manifestantes que permaneciam entrincheirados desde o início dos protestos.
“Querem nos matar!”, “Estamos cercados!”, gritavam os estudantes, desesperados, entre o barulho das balas, nos momentos de maior tensão, segundo a transmissão ao vivo de três jornalistas que se encontram também presos na igreja.
“Vamos morrer aqui. Mãe, me perdoa, estou fazendo isso para defender minha pátria”, repetiam vários estudantes, em meio aos disparos, em outros vídeos divulgados durante o ataque. Um deles reportou que as autoridades cortaram a luz na região, o que aumenta o temor de uma invasão à igreja.
Pouco antes da meia-noite local, um padre saiu da igreja com uma bandeira do Vaticano na mão para evacuar os feridos graves e o jornalista do periódico americano “Washington Post”, Joshua Partlow, que puderam sair depois de uma negociação.
Uma caravana de veículos percorreu durante a madrugada as ruas próximas à igreja e depois um grupo de pessoas iniciou uma vigília, a 1,5 km da área de conflito, em solidariedade aos estudantes.
Os estudantes são a ponta de lança de um movimento opositor que protesta desde 18 de abril contra Ortega, a quem acusam de instaurar uma ditadura, junto a sua esposa Rosario Murillo, marcada pela corrupção e o nepotismo.
Mais de 270 mortos e 2 mil feridos é o balanço deixado até agora por estes messes de protestos e confrontos.
G1