Mais uma nota triste – envolvendo atos de vandalismo – manchou o futebol neste fim de semana. Após os episódios violentos protagonizados pelas torcidas de Vasco, Corinthians e Palmeiras apenas nessa última semana, agora foi a vez de a violência atrapalhar o andamento da Série D do Campeonato Brasileiro. O ônibus do Sousa – que está em Sobral, no interior do Ceará, para enfrentar o Guarany no primeiro mata-mata da competição – foi depredado na madrugada deste domingo. Felizmente, o veículo estava em um estacionamento, sem passageiros e ninguém ficou ferido. Mas o ato hostil – praticado supostamente por torcedores do time cearense – deixou muito assustados todos os jogadores e integrantes da delegação da equipe da Paraíba, que agora temem pela sua segurança no caminho até o estádio, durante a partida e, principalmente, após o duelo, que vai decidir quem se classifica para a próxima fase da competição.
De acordo com o presidente do Sousa, Aldeone Abrantes, e com o técnico do time, Índio Ferreira, o episódio aconteceu durante a madrugada, quando a delegação paraibana estava concentrada para o jogo marcado para começar às 16h no Estádio do Junco, em Sobral. A delegação estava hospedada em um hotel da cidade, enquanto o ônibus ficou guardado em um estacionamento próximo. Foi nesse momento que aconteceu a depredação. As imagens do veículo mostram vidros quebrados, lataria amassada e até marcas que, para o presidente do clube da Paraíba, parecem ter sido feitas por balas de arma de fogo.
– Vandalismo e terror em Sobral contra a nossa delegação. Teve até perfuração de bala. E à tarde vai ser pior – comentou Aldeone Abrantes, prevendo que os atos de vandalismo não vão parar por aí.
O presidente explicou que a diretoria do clube já entrou em contato com a polícia para prestar queixa e registrar um boletim de ocorrência. Mas isso não é suficiente para tranquilizá-lo.
– Viva a impunidade! – arrematou o dirigente em tom irônico.
Concentrado no hotel junto com os atletas e os demais integrantes da comissão técnica, no momento do episódio, o treinador Índio Ferreira contou como ficou o clima dentro do grupo depois do ocorrido. Ele explicou que todos estão assustados e preocupados com a segurança até que o time pegue a estrada de volta para Sousa, no Sertão paraibano.
Índio deu a entender que o jogo em si passou a ficar em segundo plano e que a prioridade agora é fazer com que a integridade física de todos seja preservada. Ele teme que após a partida, no caso de uma eventual eliminação do time cearense, os prejuízos possam ir além dos bens materiais.
– Estamos preocupados com a integridade dos atletas. Não estamos com medo do jogo e sim da situação antes e após o jogo. Se estão assim agora, imagina após o jogo, caso sejam eliminados – comentou Índio, assustado.
O técnico do Sousa ainda explicou que, apesar de os jogadores e o restante da delegação do seu time não terem sido agredidos fisicamente, eles também foram afetados de alguma forma durante a madrugada.
– Conosco não aconteceu nada. Só alguns fogos de artifício e bombas que foram lançadas aqui nas proximidades do hotel durante a noite de ontem para hoje. Graças a Deus, não tinha ninguém dentro do ônibus. Mas, infelizmente, esse é um ato de vandalismo. É muito triste isso para o futebol. A cada dia que passa, eu me decepciono mais com o futebol.
A delegação do Sousa chegou a Sobral no final da noite da última sexta-feira. Segundo Índio, a chegada e a primeira madrugada do time na cidade cearense foram tranquilas. No sábado, o time treinou normalmente no Estádio do Junco – local da partida de logo mais – e nada de anormal foi registrado. Até a noite do sábado, segundo o treinador, o clima foi de tranquilidade, cenário bem diferente do tumulto durante a última madrugada.
Sousa e Guarany de Sobral se enfrentaram no último domingo, no Estádio Marizão, casa do time paraibano, que venceu por 3 a 1, abrindo boa vantagem para este jogo da volta. Vale destacar que, logo após a partida no Sertão da Paraíba, o técnico do Guarany, Sérgio China, deu declarações polêmicas, insinuando que o Sousa estaria envolvido no incidente que acarretou problemas estomacais em vários jogadores rubro-negros.
A repercussão dos depoimentos de Sérgio China assustou dirigentes, integrantes da comissão técnica e jogadores do Sousa, que temiam justamente serem recebidos com esse clima hostil em Sobral. O treinador Índio Ferreira, aliás, cogita que o ato de vandalismo dessa madrugada não tenha sido algo arquitetado apenas pela torcida do Guarany.
– Isso é algo armado. Porque, se fosse retaliação da torcida, teria acontecido logo na sexta ou no sábado, no dia do treino. Então, é de alguém de dentro do clube. Eu afirmo com toda certeza. Isso parte de alguém que é de dentro do clube. Isso aí não faz parte do profissionalismo. Muito triste essa situação – acusou o treinador.
Após prestarem queixa e registrarem o boletim de ocorrência na Delegacia Regional de Sobral, os dirigentes do Sousa receberam garantias de que o ônibus do time vai ser escoltado até o Estádio do Junco para a partida de logo mais. Nada que deixe o técnico Índio respirar mais aliviado.
– Vamos ser (escoltados) até o estádio. E na volta? Quem nos garantirá segurança? Sei que Deus nos guarda, mas não confio em homens em um país corrupto igual ao nosso – finalizou Índio.
Sousa e Guarany de Sobral se enfrentam a partir das 16h no Estádio do Junco. Vale lembrar que, por conta de uma punição imposta pelo STJD ao time cearense, a partida vai acontecer com portões fechados, sem a presença da torcida.
Como venceu o primeiro jogo por 3 a 1, os paraibanos podem até perder por um gol de diferença ou mesmo por dois, desde que balancem as redes pelo menos duas vezes. Já os cearenses precisam vencer por 2 a 0 ou conseguir qualquer outra vitória com três ou mais gols de diferença. Caso o Guarany devolva o 3 a 1, então a disputa vai para os pênaltis.
Globo Esporte PB