terça-feira, 25 de outubro de 2016

Nova onda de lama da Samarco pode atingir Rio Doce, diz Ibama


O cronograma de obras para contenção de rejeitos da barragem da Samarco em Mariana, em Minas, está atrasado e, por causa das chuvas, uma nova onda de lama pode atingir o Rio Doce, voltando a causar danos ambientais e a prejudicar o abastecimento de água de 40 municípios da bacia. É o que diz o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em balanço divulgado nesta terça-feira, 25, em Belo Horizonte.

Com as chuvas e o consequente carreamento de rejeitos, o instituto não descarta a possibilidade de a lama, ao atingir o Rio Doce, romper a hidrelétrica de Candonga, que fica no curso d’água, a cerca de cem quilômetros do local do acidente. Ela funcionou como um dique quando houve o rompimento da barragem da mineradora, tragédia que completará um ano no próximo dia 5 – 18 pessoas morreram e uma está desaparecida. Em outro cenário, o Ibama acredita que a lama pode passar sobre a hidrelétrica. Em ambos os casos, ela poderá voltar a atingir o litoral do Espírito Santo, na foz do Rio Doce.
Segundo dados do Ibama, entre o local do acidente em Mariana e a hidrelétrica existem 43,5 milhões de metros cúbicos de rejeitos, o equivalente a 17,4 mil piscinas olímpicas. O material está disposto nas barragens da Samarco de Fundão (a que se rompeu em novembro do ano passado), Santarém, diques, na área de Bento Rodrigues (o distrito de Mariana destruído na tragédia) e às margens de afluentes e do Rio Doce. Há ainda, conforme o levantamento do Ibama, graves problemas de erosão em toda a área. O estudo acusou ainda atraso no reflorestamento da região atingida.

Recuperação

As obras e a recuperação ambiental estão a cargo da mineradora e do Instituto Renova, da qual participa juntamente com suas controladoras, a Vale e BHP Billiton. As medidas a serem tomadas constam no acordo fechado entre as empresas, a União e os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O termo está sendo contestado na Justiça pelo Ministério Público Federal, em Minas.

Conforme a procuradoria, não houve participação da população atingida na decisão da medidas a serem tomadas. Em relação às obras, a presidente do Ibama, Sueli Araújo, afirma que serão suficientes, mas que o atraso, juntamente com o início das chuvas, traz um “desafio” para o momento.

“Com a chuva você não sabe o que vai ocorrer entre Fundão (a barragem da Samarco que ruiu) e Candonga”. “Reconhecemos o atraso. Não estamos falando que está bem. Falamos que está monitorado”, diz Sueli. Há três estruturas de contenção com obras em andamento na região do desastre: o dique S4, o eixo um de Fundão e a barragem de Nova Santarém.

Segundo a presidente do Ibama, há problemas também quanto ao repasse de recursos previstos aos municípios para investimentos em saneamento. Cerca de R$ 50 milhões de um total de R$ 500 milhões que já deveriam ter chegado às prefeituras às margens do Rio Doce não foram repassados.

A justificativa foi o período eleitoral, segundo Sueli. Em função das chuvas, conforme a presidente do Ibama, existe a possibilidade de aumento da turbidez da água no Rio Doce, prejudicando a captação de água para consumo humano.
Ainda conforme afirmou a presidente do Ibama, um plano de ação emergencial será implementado para informar a população da região sobre cuidados a serem tomados em caso de aumento do carreamento de rejeitos para o Rio Doce e seus afluentes, o que pode aumentar a presença de metais pesados na água.

Samarco diz que obras de reforço estão concluídas

Em nota, a Samarco afirmou que “as obras de reforço de segurança das estruturas remanescentes estão 100% concluídas”. Segundo ela, a construção da barragem de Nova Santarém no Complexo de Germano terminará em dezembro. “O dique S4 teve suas obras iniciadas no fim de setembro e deve ser concluído em janeiro de 2017.” A empresa diz que as “estruturas planejadas e em construção terão capacidade de reter o rejeito remanescente da barragem de Fundão”.

O texto diz ainda que a mineradora “recuperou cerca de 800 hectares de vegetação até a Usina Risoleta Neves (Candonga) em Minas”. Segundo ele, o trabalho foi feito em mais de cem quilômetros de extensão, visando a reduzir as erosões às margens dos rios. “Esta recuperação representa 100% do volume acertado pela empresa com os órgãos ambientais”, afirmou a nota.
Agência Estado
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