sexta-feira, 8 de setembro de 2017
Pirâmide financeira gera prejuízo de até R$ 5 milhões a 300 vítimas na Paraíba
Dezesseis pessoas foram indiciadas por envolvimento em esquema de pirâmide financeira, lavagem de dinheiro e associação criminosa na Paraíba. O delegado Lucas Sá explicou que o prejuízo confirmado é de R$ 3 milhões no estado, mas pode chegar a R$ 5 milhões. Há cerca de 300 vítimas confirmadas, mas muitas se continuam sendo enganadas pois os cabeças da pirâmide prometem ainda devolver o dinheiro, segundo o delegado.
A Delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa (DDF) concluiu nesta quarta-feira (6) as investigações referentes à pirâmide financeira que envolve negócios esportivos e entregou à Justiça no mesmo dia.
De acordo com o relatório, a cota para entrar no negócio era de R$ 6.750 e os cabeças prometiam um retorno mensal de R$ 2 mil por um período de um ano, desde que indicassem mais pessoas para o negócio. Essa prática, segundo o delegado, já caracteriza o crime de pirâmide financeira. “Tem gente que investiu de 50 mil até 100 mil neste negócio”, disse o delegado.
Motos e carros foram entregues à empresa como garantia de pagamento da cota, segundo o relatório da DDF. Um vítima entregou uma Honda CB300, no valor de R$ 8 mil – que era seu único bem – a um dos cabeças como garantia de pagamento da cota. O documento diz que o líder se negou a assinar um contrato de entrega do veículo alegando que tudo seria formalizado com o sistema da pirâmide.
Depois de um tempo, quando as vítimas perceberam que não iria haver retorno financeiro a partir daquele investimento, começaram a questionar a verdade do que foi prometido. Procuraram os cabeças, disseram que iam registrar boletins de ocorrência e foram à delegacia.
Em 15 de agosto, um dos líderes foi preso pela DDF. Dênis Albuquerque é o suspeito de chefiar a quadrilha que aplica os golpes financeiros. Mesmo após a prisão, há pessoas que continuam sendo enganadas pelas pessoas da pirâmide, de acordo com Lucas Sá.
“Quando souberam da prisão, muitos ficaram preocupados. Procuraram a DDF temendo ser presos. No entanto, soube que recentemente eles voltaram a marcar reuniões com a promessa de que estava tudo ‘OK’, ou seja, estão agindo livremente”, informou o delegado.
B.O. e promessa de dinheiro de volta
O delegado informou que os líderes da organização criminosa continuam prospectando mais pessoas e ameaçando as vítimas que denunciaram o esquema à polícia. Em conversas de WhatsApp, um dos líderes diz que quem indicou gente para dentro da pirâmide também é culpado.
“Olá pessoal, fiz o BO ontem e o delegado me disse, quem entrou é vítima, mas se colocou alguém é processado por estelionatário, ou seja, muito de vocês indicou, então serão passivos de processo” (sic), diz a mensagem de um dos líderes em um grupo nomeado “Justiçanad9”.
No mesmo grupo, em outro momento, a mesma pessoa diz que os valores serão pagos mas quem prestou boletim de ocorrência só vai receber o dinheiro via justiça. Indignados, um conjunto de vítimas nomeou um grupo no aplicativo de “A espera de um milagre”.
Bitcoins e dólares
Um dos “treinadores” da empresa suspeita de fraude, afirmava que os pagamentos seriam feitos em Bitcoin – uma moeda digital.
“A partir de 300 dólares que você tiver, em média de 13 a 15 dias vai entrar na sua corretora [de valores] em bitcoins. A empresa só negocia em bitcoins”, diz o treinador da empresa. O mesmo homem tem fotos em viagens e ao lado de montes de dinheiros publicadas.
Perguntado sobre a real existência dos negócios na moeda estrangeira na eletrônica, o delegado Lucas Sá afirmou que “não existe negócio algum. Eles informam que a pessoa vai ganhar dinheiro ‘sem fazer nada’; que a empresa ‘vai trabalhar pra eles’ e que se indicarem pessoas vão ganhar ainda mais dinheiro – exatamente a pirâmide”.
Ganhos em dólares e bitcoins eram prometidos pelos líderes da pirâmide financeira (Foto: Divulgação/DDF)
Denúncia no Fantástico
Esquema foi exposto em reportagem no Fantástico do domingo, 13 de agosto. A polícia investiga dois aplicativos que ofereciam lucros de até 30% ao mês com apostas em campeonatos esportivos na Bahia. Para a polícia, o esquema não passa de uma pirâmide financeira.
Os dois aplicativos são apresentados como inovadores ao oferecerem dinheiro fácil com apostas em campeonatos de futebol. Para a polícia, as duas iniciativas são novas versões para a pirâmide financeira, formando uma grande rede de investidores e prometendo lucros.
Através do aplicativo, as vítimas acompanhavam seus lucros, que aumentavam, mas os valores não podiam ser sacados. Algumas vítimas pararam de aplicar dinheiro quando percebiam o golpe.
G1