quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Baderna institucional está tomando conta do país’, diz Barbosa
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na edição desta quinta-feira que, no momento pelo qual o Brasil passa, é importante que “cada um faça uma boa reflexão e assuma a sua parcela de culpa pela baderna institucional que está tomando conta do país”. Barbosa diz que o impeachment causou um “deslocamento do centro de gravidade da política nacional” que possibilitou a aprovação da lei de abuso de autoridade na madrugada desta terça-feira pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Para o ex-ministro, o que ocorreu na Câmara é um “desdobramento do controvertido processo de impeachment, cujas motivações reais eram espúrias”. Barbosa ainda afirmou que, no entendimento dos políticos, a lógica para aprovação da emenda que prevê punição aos juízes era: “se eu posso derrubar um chefe de Estado, por que não posso intimidar e encurralar juízes?”
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Longe dos fatos políticos há mais de um ano, o ex-ministro que comandou o julgamento do mensalão afirmou que acompanha a Operação Lava Jato por meio do noticiário e considera o impeachment de Dilma Rousseff “uma encenação” que, segundo ele, faz com que exista a possibilidade do governo de Michel Temer não chegue ao fim devido à instabilidade política que se criou.
Barbosa afirmou também que um presidente precisa ter boa comunicação diretamente com a nação, e não com o Congresso. “Ele (o presidente) governa em função da legitimidade, da liderança, da expressão da sua vontade e da sua sintonia com o povo. Dilma não tinha nenhum desses atributos. Aí ela foi substituída por alguém que também não os têm, mas que acha que está legitimado pelo fato de ter o apoio de um grupo de parlamentares vistos pela população com alto grau de suspeição”. Para o ex-ministro, o mal-estar institucional vai perdurar durante os próximos dois anos.
Segundo Barbosa, o impeachment deixou as instituições enfraquecidas. “Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com vigor, muitas vezes com ódio, um ato grave como é o impeachment não tinham clareza da desestabilização estrutural que ele provoca”. Para ele, o Brasil “deu um passo gigantesco para trás em 2016” também na área econômica.
Prisão de Lula
O ex-presidente do STF afirmou que nunca se debruçou sobre os processos que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas entende que há uma mobilização para que ele seja condenado. Segundo Barbosa, a prisão de Lula terá de ser baseada em algo inquestionável para o que o Brasil não perca ainda mais credibilidade. “Uma prisão sem fundamento de um ex-presidente com o peso e a história do Lula só tornaria esse olhar ainda mais negativo. Teria que ser algo incontestável”, afirmou.