segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sob chuva, Rio lava a alma e dá adeus à Olimpíada que vai deixar saudade


Saudade. A palavra solitária que só na língua portuguesa consegue representar vários sentimentos deu o tom da despedida. Os Jogos Olímpicos do Rio prometem mesmo deixar saudade – até para quem não sabe exatamente seu significado. Debaixo de chuva no Maracanã, o país lavou a alma e celebrou na noite deste domingo o fim e o começo de um novo tempo. Foram 17 dias inesquecíveis da primeira edição disputada na América do Sul e que terminou do jeito que o brasileiro gosta e sabe fazer: com festa, emoção, alegria e muito samba.

Santos Dumont fez o convite para retomar o voo pelos cartões-postais do Rio de Janeiro, que havia começado 17 dias antes, na cerimônia de abertura. Desta vez, a viagem por pontos turísticos como os Arcos da Lapa, o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar também proporcionou um passeio pela rica fauna brasileira, até formar os arcos olímpicos, ao som da percussão do grupo Barbatuques.

Devagarinho, Martinho da Vila pediu licença para apresentar ao mundo os grandes maestros da música popular brasileira. Pixinguinha e o seu “Carinhoso”, Braguinha e Noel Rosa foram homenageados pelo intérprete e compositor de Vila Isabel, que levou suas três filhas e uma neta, para ajudá-lo a contar e cantar um pouco o samba e o choro brasileiros. O momento dedicado à música terminou com um emocionante coro de 27 crianças – representando os 26 estados e o Distrito Federal – cantando o Hino Nacional do Brasil. A bandeira do país entrou no Maracanã nas mãos da ex-tenista brasileira Maria Esther Bueno.

Aves brasileiras se unem formando os tradicionais aros olímpicos (Foto: Reuters)

A FESTA DOS ATLETAS

De Noel Rosa para Carmen Miranda. A famosa cantora e atriz que abriu portas para o Brasil no mundo, desta vez, foi representada pela cantora Roberta Sá, abrindo alas para a entrada das 207 delegações dos Jogos Olímpicos do Rio. O desfile dos atletas seguiu com mais música brasileira. O tradicional ritmo frevo foi apresentado. Também teve samba. Teve forró. E sobrou alegria na festa de quem deu o espetáculo nos últimos 17 dias.

Os atletas se despedem dos Jogos Olímpicos Rio 2016 (Foto: Reuters)

Com a Bandeira do Brasil nas mãos, Isaquias Queiroz, o canoísta que conquistou três medalhas na competição, representou a alegria dos 462 atletas brasileiros que tiveram a chance de defender o país em casa. Nesta altura, o gramado do Maracanã já tinha virado pista de dança. Criações de artistas brasileiros ganharam forma no centro do estádio, em seguida. Pinturas desde o tempo dos primeiros habitantes até os dias de hoje foram representadas. A cultura indígena tão marcante nas origens brasileiras foi lembrada com desenhos geométricos.
PARA DEIXAR SAUDADE

Arnaldo Antunes pediu licença para falar de saudade. O escritor, compositor e cantor recitou um poema que tem como tema a palavra famosa por só na língua brasileira definir de forma resumida vários sentimentos. Projeções de traduções em diversos idiomas para “saudade” foram lançadas pelo estádio. Em seguida, veio uma homenagem à arte manual das mulheres rendeiras, com a participação do grupo “Ganhadeiras de Itapuã”, destacando a contribuição da cultura negra na formação do Brasil. A renda saiu de cena e entrou a argila. Era a vez de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, e sua “Asa Branca” serem lembrados.

Destaque palavra saudade e para o trabalho das Mulheres Rendeiras (Foto: Leonhard Foeger/Reuters)

Um vídeo com cenas marcantes e emocionantes dos Jogos Rio 2016 foi exibido e serviu de introdução para a última premiação da competição, na entrega de medalhas da tradicional prova da maratona. Em seguida, grandes nomes do esporte, como a russa Yelena Isinbayeva, foram anunciados como novos membros da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os voluntários, que se espalharam e se desdobraram em vários cantos da cidade nos últimos 17 dias, se uniram no centro do Maracanã e também foram homenageados, enquanto Lenine embalava o bonito momento. Era uma das últimas cenas olímpicas do Rio de Janeiro. Não demorou muito para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, devolver a bandeira olímpica para o COI, em meio a algumas vaias e aplausos do público. O símbolo foi entregue em seguida a Tóquio, o palco da edição de 2020.

O cartão de visitas dos japoneses para a próxima Olimpíada teve como destaques a palavra “Arigato” (obrigado, em português), que foi projetada em várias línguas durante a breve apresentação, e a tradição dos games japoneses. Reforçando os conceitos de “diversidade e harmonia “, Tóquio apresentou a intenção de incentivar a aceitação apesar das diferenças culturais dos povos. Para encerrar, uma queima de fogos.


O presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, e do COI, Thomas Bach, fizeram seus discursos de encerramento. Estava na hora de o Rio se despedir para valer. As obras do paisagista brasileiro Roberto Burle Marx foram lembradas com novos desenhos no gramado. Em em seguida, uma chuva artificial apagou o fogo da pira olímpica, enquanto Mariane de Castro cantava “Chovendo na Roseira “, de Tom Jobim.

Uma queima de fogos celebrou o fim da cerimônia. Mas foi fazendo carnaval, com o Cordão do Bola Preta e escolas de samba em cena, que o Rio transformou o Maracanã no Sambódromo, colocou o mundo para sambar e deu um “até logo” – já saudoso – aos Jogos Olímpicos.

Sob chuva, Maracanã celebra o fim dos Jogos Olímpicos no Rio (Foto: Reuters)

* Participaram da cobertura Cahe Mota, David Abramvezt, Gabriel Fricke, Helena Rebello, João Gabriel Rodrigues, Richard Souza, Tiago Leme e Thiago Quintella. Texto de Lydia Gismondi