quinta-feira, 7 de julho de 2016

Apelido de político faz Justiça proibir uso de camisa com bandeira da Paraíba


O juiz eleitoral substituto da 30ª Zona Eleitoral da Paraíba, que fica em Teixeira, no Sertão, Gustavo Camacho Meira, proibiu através de liminar o uso de camisas vermelhas e pretas com a inscrição ‘Nego’, similar à bandeira do estado. O magistrado entendeu que as vestimentas serviam de propaganda para o prefeito do município, Edmilson Alves dos Reis (PMDB), conhecido por ‘Nego de Guri’.

De acordo com o historiador e professor de história Gilbert Patsayev, o “Nego” da bandeira paraibana é a conjugação do verbo “negar”, e remete à não aceitação por parte do político João Pessoa, então presidente da Paraíba, a apoiar politicamente a campanha de Júlio Prestes à presidência do Brasil nas eleições de 1930.

“João Pessoa era candidato à vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas e, antes da eleição, em 1929, ele foi convidado a deixar a chapa e apoiar o candidato da situação. Por meio de um comunicado, o político negou oficialmente o apoio e o nome na bandeira vem justamente desta negação”, explica.

A Justiça foi acionada pelo presidente do diretório municipal do PDT em Teixeira, Renato Marques de Amorim, que posição à atual administração. Segundo a representação, as camisas estavam sendo usadas para fazer propaganda do prefeito fora do período regulamentar de campanha eleitoral. A liminar foi expedida no dia 29 de junho.

“Eu entendi que as camisas eram uma propaganda subliminar da campanha do atual prefeito, chamado de ‘Nego’. O partido de oposição entrou com uma representação e eu acabei expedindo a liminar, já que a legislação eleitoral é bem clara e proíbe [uso de] camisas”, disse o juiz Gustavo Camanho Meira.

Na decisão, o magistrado proíbe atos políticos em locais públicos com pessoas vestindo camisas vermelhas e pretas com a expressão ‘Nego’, além da proibição de distribuição dessas camisas. Carreatas com carros de som também estão incluídas entre as proibições.

Ainda de acordo com o juiz eleitoral, foi denunciado que servidores municipais estavam trabalhando em repartições públicas com as camisas. “Não tivemos registro de confusões nos órgãos públicos, mas decidimos proibir o uso também nestes locais”, afirmou Gustavo Camacho Meira.

Bandeira homenageia João Pessoa
A atual bandeira da Paraíba foi implantada no dia 25 de setembro de 1930, alguns meses depois da morte de João Pessoa, que foi assassinado por um rival político em Recife. A morte causou uma grande comoção popular e é considerado o estopim da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.

Segundo o historiador, a família de João Pessoa tinha uma influência política muito forte e teria utilizado esta influência para, com o pretexto de homenagear o político, modificar o nome da capital paraibana, então chamada de Parahyba, e implantar uma nova bandeira no estado, que estava sem o símbolo desde 1922.

“O preto usado na bandeira significa o luto do povo paraibano pela morte de João Pessoa e o vermelho representa o sangue derramado, além de ser a cor da Aliança Liberal, da qual ele fazia parte. Além disso tem o ‘Nego’, relembrando a negação política por parte de João Pessoa que mostrava que a Paraíba era ‘pequena, porém forte’ nas decisões políticas”, disse Patsayev. A bandeira rubro-negra foi oficializada como a ‘Bandeira do Nego’ em 26 de julho de 1965, pelo governador da Paraíba na época, Pedro Moreno Gondim.


g1PB