segunda-feira, 4 de março de 2019
Em Alhandra Polícia faz reconstituição do assassinato de dois integrantes do MST.
A Polícia Civil realizou na noite desta terça-feira (26) o trabalho de reconstituição do duplo homicídio contra integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na cidade de Alhandra, Região Metropolitana de João Pessoa. O crime aconteceu no dia 8 de dezembro de 2018, quando José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino foram mortos por homens encapuzados e armados, de acordo com informações repassadas pelo MST.
No local, os policiais reproduziram o que teria acontecido na noite do crime em que, segundo as testemunhas, quatro homens invadiram o assentamento do MST e executaram os dois homens.
De acordo com a delegada Flávia Assad, ainda não foram descartadas algumas linhas de investigação.”A gente acredita que essa prova possa trazer novos detalhes. O importante é esclarecer detalhes da execução do crime”, declarou.
Policiais ouviram testemunhas do crime para reconstituir o crime, em Alhandra — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução
Durante a reconstituição do crime, a cena do assassinato dos dois integrantes do MST foi simulada com base no relato de cada uma das testemunhas ouvidas pelos peritos.
“Cada testemunha vai relatar como aconteceu e nós, sem interferência alguma, montaremos o cenário de acordo com o que nos foi relatado. Para que no final a gente possa confrontar as versões de cada um”, explicou o perito criminal Herbet Boson.
Entenda o assassinato de integrantes do MST
Dois homens integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na Paraíba (MST-PB) foram assassinados a tiros na noite do dia 8 de dezembro de 2018 no acampamento Dom José Maria Pires, na cidade de Alhandra, na Região Metropolitana de João Pessoa. José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino foram mortos por homens encapuzados e armados, de acordo com informações repassadas pelo MST.
A Polícia Militar confirmou o duplo homicídio. De acordo com o major M. Lima, comandante da 1ª Companhia Independente de Polícia Militar, que responde pela área onde ocorreu o crime, equipes da PM estão realizando buscas para localizar suspeitos de envolvimento com os homicídios.
Orlando e Rodrigo Celestino foram assassinados a tiros no acampamento em Alhandra — Foto: Reprodução
Conforme nota oficial divulgada pelo MST-PB, o crime ocorreu por volta da 19h30 no acampamento que fica na fazenda Igarapu, ocupada pelas famílias desde julho de 2017. José Bernardo da Silva e Rodrigo Celestino estavam jantando no momento em que os homens encapuzados entraram no local atiraram várias vezes.
“As armas usadas não eram automáticas ou semiautomáticas, provavelmente, de acordo com as cápsulas encontradas no local, usaram uma espingarda, calibre 12 ou 26, e um revólver calibre 38”, relatou o comandante da Polícia Militar de Alhandra.
O crime foi tratado, a princípio, como execução, porque os atiradores mandaram as outras pessoas se afastarem e atiraram somente nas duas vítimas. “Falaram que queriam só eles, mandaram os outros saírem do meio, renderam e atiraram. Por isso trabalhamos com execução”, explicou a delegada Lídia Veloso.
Acampamento Dom José Maria Pires foi montado em julho de 2017 na fazenda Igarapu em Alhandra, Litoral Sul da Paraíba — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco
Fazenda pertence à usina condenada
A usina proprietária da fazenda Igarapu, na cidade de Alhandra, na Paraíba, onde foram assassinados dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), já foi condenada em 2010 pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) pela morte do trabalhador rural Luis Carlos da Silva. O crime aconteceu em 1998 na cidade de Goiana.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a fazenda Igarapu, área em que foi montado o acampamento Dom José Maria Pires, pertencia ao grupo João Santos, empresário pernambucano que detinha a Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), que entrou em processo de falência.
A Caig, por meio de seu setor jurídico, informou que não reconhece que a fazenda Igarapu faça parte de suas propriedades. Ainda de acordo com o jurídico, o local era usado para o plantio de bambus e a Caig trabalha apenas com o plantio de cana-de-açúcar. O jurídico explicou ainda que não tinha conhecimento do histórico da propriedade.
MP acompanha investigação
Um procedimento administrativo foi aberto pelo Ministério Público da Paraíba para investigar as mortes dos dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST). O inquérito aberto pelo MP tem como objetivo acompanhar as autoridades policiais no trabalho de investigação do duplo homicídio.
A promotora de Justiça de Alhandra, Ilcléia Mouzalas, instaurou procedimento administrativo para acompanhar as investigações e está em contato direto com a delegada que preside o inquérito policial e com o delegado-geral. O procurador-geral de Justiça, Francisco Seráphico Ferraz da Nóbrega Filho, também designou o promotor de Justiça Márcio Gondim para auxiliar nos trabalhos da promotoria de Alhandra.
De acordo com o Ministério Público, os procedimentos foram instaurados devido à possibilidade de ofensa a valores democráticos, sociais e constitucionais, que são de alta relevância para o Ministério Público, como o direito à vida e o direito à liberdade de associação e organização social.
Corpo de Orlando – que era uma das lideranças do MST na Paraíba – foi enterrado na manhã desta segunda-feira (10) após cerimônia religiosa na cidade de Mari, PB
Histórico familiar
José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando é o segundo de três irmãos ligados a movimentos sociais que foi executado no estado. Em 2009, um outro irmão de Orlando, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens na Paraíba, foi morto em uma emboscada. O terceiro irmão, Osvaldo Bernardo, vive sob regime de proteção para defensores dos Direitos Humanos.
Orlando foi velado e enterrado na cidade de Mari, a cerca de 60 km de João Pessoa. Ele morava no assentamento Zumbi dos Palmares, na mesma cidade. Orlando era um dos coordenadores do MST na Paraíba.
A morte de Orlando é parte de uma estatística levantada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) que indica um aumento significativo dos assassinatos de lideranças de movimentos sociais. Dos 24 assassinatos registrados neste ano, 54% são de líderes de movimentos agrários, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, de acordo com a CPT.
G1