A aguardada sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidirá sobre o habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — e sua possível prisão por crimes desvendados pela Operação Lava Jato — começará às 14 horas, mas, independentemente do resultado, não acabará neste 4 de abril ou até a data em que os ministros de toga arrastarem o julgamento. Vai além disso. É um julgamento que passa pelas ruas — seja qual for a cor da camisa do time –, pelas redes sociais inflamadas como jamais se viu e até pela manifestação de um general, comandante do Exército, na véspera de um dia tão tenso.
Nesta quarta-feira, centenas, talvez milhares de pessoas, irão às ruas protestar pela prisão de Lula, ou contra ela. Em diversos estados, a Polícia Militar já recomendou alerta para confrontos. O local mais vulnerável é a capital do país, Brasília, onde os onze ministros do Supremo anunciarão seus votos na Praça dos Três Poderes — isso se nenhum deles tiver uma passagem aérea na manga para algum compromisso inadiável, como fez Marco Aurélio Mello na semana passada. Conforme os votos anteriores, o placar tende a ser apertado e a fala mais aguardada é a de Rosa Weber, que já se manifestou contra a prisão após condenação em segundo grau, mas tem optado por seguir a jurisprudência e o alinhamento dos demais colegas da corte.
Se é fato que a denúncia em tela contra Lula (no caso, a do triplex no Guarujá) é a mais frágil de tudo o que pesa contra ele na Justiça, também é fato que a decisão do Supremo é encarada como um divisor de águas eleitoral por políticos e advogados mergulhados na encrenca — até porque na fila estão condenados na Lava Jato, como os Palocci, Cunha, Dirceu e os demais que ainda detêm mandato. A própria Rosa Weber, aliás, assumirá o comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em calendário de eleições. Uma maioria dos votos contra Lula será um golpe ainda mais duro para o PT e para a viabilidade de um plano B ou C de uma esquerda combalida. O contrário também terá impacto relevante: candidato ou não, Lula é favorito nas pesquisas e, mesmo fora das urnas, é um cabo eleitoral com enorme capilaridade nos rincões do país.
Assim como em agosto de 2007, o Supremo julgará o recurso “com a faca no pescoço”, para usar as palavras do ministro Ricardo Lewandowski sobre o processo do mensalão, conforme revelou na época o jornal Folha de S. Paulo.
Nesta hora, é importante frisar que uma democracia tão jovem como a nossa viu dois presidentes sofrerem processos de impeachment em poucas décadas. Ainda assim, manteve-se em pé. Seja qual for o resultado, que todo mês de outubro em ano par continue sendo tempo de eleições.