sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
General Mourão diz que Temer faz 'balcão de negócios'
Ele voltou a falar sobre a possibilidade de atuação das Forças Armadas caso haja uma situação de "caos" no país
O general do Exército Antonio Hamilton Mourão, que em setembro sugeriu que pode haver intervenção militar no Brasil se o Judiciário não conseguir resolver "o problema político", voltou a falar nesta quinta-feira (7) sobre a possibilidade de atuação das Forças Armadas caso haja uma situação de "caos" no país.
O militar comentou a situação brasileira para uma plateia no Clube do Exército, em Brasília, a convite do grupo Ternuma (Terrorismo Nunca Mais). Sua palestra, com o tema "Uma visão daquilo que me cerca", reuniu críticas aos governos Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT) e também a Michel Temer (do PMDB).
"Não há dúvida que atualmente nós estamos vivendo a famosa 'Sarneyzação'. Nosso atual presidente [Michel Temer] vai aos trancos e barrancos, buscando se equilibrar, e, mediante o balcão de negócios, chegar ao final de seu mandato", afirmou ele.
Sobre a possibilidade de intervenção, Mourão repetiu o raciocínio que gerou repercussão há três meses, dizendo que a instituição poderia ter o papel de "elemento moderador e pacificador", agindo "dentro da legalidade".
Segundo ele, o Exército tem como missão defender a pátria e possui a democracia e a paz social como valores supremos. "Se o caos for ser instalado no país... E o que a gente chama de caos? Não houver mais um ordenamento correto, as forças Institucionais não se entenderem, terá que haver um elemento moderador e pacificador nesse momento [...]. Mantendo a estabilidade do país e não mergulhando o país na anarquia, agindo dentro da legalidade, ou seja, dentro dos preceitos constitucionais, e usando a legitimidade que nos é dada pela população brasileira", disse.
As Forças Armadas, de acordo com ele, estão atentas "para cumprir a missão" que cabe a elas. "Mas por enquanto nós consideramos que as instituições têm que buscar fazer a sua parte." O Exército, por meio de nota enviada à reportagem, disse que "as declarações emitidas estão sendo objeto de análise pelo Comando da Força".
Em setembro, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou que o subordinado não receberia punição pelas afirmações da época.
Hoje secretário de economia e finanças da Força, em 2015 Mourão foi exonerado do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, e transferido para Brasília após fazer críticas ao governo de Dilma Rousseff.
Candidatura
Mourão foi aplaudido sem parar durante um minuto, após falar por cerca de 45. Depois, ao longo de aproximadamente 50 minutos, ele respondeu a perguntas da plateia. Diante de pedidos para se candidatar, ele respondeu: "Eu apenas digo uma coisa: não há portas fechadas na minha vida". O militar disse que seu domicílio eleitoral é em Brasília e que passará para a reserva em 31 de março do ano que vem. Depois disso, deverá morar no Rio de Janeiro.
Militares da ativa são impedidos de participar de atividades político-partidárias. Para Mourão, a obrigação de se licenciar para concorrer a cargo eletivo é "saudável".
Ele disse ter fé de que a Justiça irá brecar a candidatura do ex-presidente Lula em 2018 -o petista foi condenado pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex de Guarujá (SP) e pode ter a candidatura inviabilizada se a segunda instância confirmar a decisão.
Questionado sobre o presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que é militar da reserva do Exército, Mourão afirmou que o deputado federal "é um homem que não tem telhado de vidro, não esteve metido nessas falcatruas e confusões". "Ele terá que se cercar de uma equipe competente. [...] Obviamente, nós, seus companheiros, dentro das Forças, olhamos com muito bons olhos a candidatura do deputado Bolsonaro."
Ao fim do evento, o palestrante foi tietado por pessoas da plateia -muitas delas militares e familiares- e posou para fotos. Uma das presentes, que destacou o general ao microfone no início de sua fala, era Joseita Ustra. Viúva do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (um dos símbolos da repressão durante o regime militar), ela foi descrita pelo palestrante como "uma lutadora, uma grande mulher".