Batista é professor da disciplina de medicina legal no curso de direito do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê). Com medo de sofrer retaliações no resultado das provas, seis estudantes esperaram o período terminar e então protocolaram denúncias contra ele na Ouvidoria da faculdade. A assessoria do Unipê informou que está produzindo uma nota oficial com o posicionamento da instituição sobre o caso.
“Não estou exagerando. O professor Alírio, ao tratar de ‘perversões sexuais’ em sua disciplina, classificou a homossexualidade (insistentemente gravada como homossexualismo, sufixo que remete à doença) como aberração, repetindo isso por diversas vezes ao longo de sua apresentação”, contou o estudante de direito Diógenes Dantas em postagem no Facebook.
Diógenes explicou que, no fim da aula, período aberto para dúvidas, pediu a palavra para informar ao professor que a aula ministrada estava mais de 20 anos atrasada, uma vez que a homossexualidade foi retirada da lista internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1990, e solicitar que ele informasse em sala que esse seria um conceito pessoal.
“Confesso que me faltam palavras para descrever o que senti ao enfrentar o peso do julgo dos outros alunos, que, abismados com o ocorrido, me dirigiam olhares aflitos, como se esperassem uma atitude da minha parte frente à sumária redução da minha condição humana para uma mera ‘aberração’”, comentou o estudante.
Porém, conforme disse o estudante, o professor afirmou que iria continuar definindo o termo da mesma maneira e sustentou que aquele era um conceito da Medicina Legal.
“Eu não sabia o que fazer, e a única atitude que enxerguei foi me retirar da sala de aula. Na próxima aula, meus colegas de turma comentaram que o professor, em sala, endossou ainda a discussão de que a origem de tal ‘doença’ seria ‘safadeza’ (sic), mas que ‘não gostaria de estender a conversa, pois essa gente era muito agressiva’”, publicou.
“Aberração, ‘caro mestre’, é esconder o seu preconceito no manto da liberdade de cátedra”, declarou o universitário.
Além das atitudes homofóbicas, Diógenes disse que o professor faz comentários machistas e misóginos e alunas tentam se matricular na disciplina em outro horário para evitar o docente. De acordo com o estudante, o professor chegou a aconselhar “que as alunas venham com roupas curtas e sentem nas cadeiras da frente, facilitando que ele olhasse quando elas cruzarem as pernas”.
Apostilas falam em ‘aberrações’ e ‘perversões sexuais’
Em apostilas disponibilizadas pelo professor em seu site pessoal, o educador classifica o que ele chama de “homossexualismo” como “anomalia sexual”, na categoria “aberrações e perversões sexuais”, junto com a zoofilia, a necrofilia, o sadismo e o vampirismo, alegando que essas “facilmente levam a (sic) morte por homicídio”.
Em outro material, o “homossexualismo” aparece na lista de “aberrações ou desatinos sexuais”, ao lado da pedofilia e do estupro. “Pederastas ou lésbicas poderão, em nome do amor, praticar tipos diferentes de crimes por motivações ciumentas”, diz uma das apostilas disponibilizadas pelo professor Alírio Batista na internet.
De acordo com Diógenes, o material disponibilizado no site é utilizado em sala de aula e exigido nas provas das disciplinas. “Esse é o material indicado para estudo e, na prova, a gente tem que responder tudo que ele coloca no material”, explicou.
G1