terça-feira, 21 de março de 2017
MP investiga esquema que usa nome de associação de deficientes para ganhar dinheiro
Uma investigação em andamento no Ministério Público da Paraíba (MPPB) apura denúncias de ‘pilantropia’ praticada por pessoas e organizações que se utilizam da boa fé da população para aplicar golpes em nome de associações beneficentes.
O caso envolve a Associação Paraibana de Deficientes (Aspadef), cujo nome estaria sendo usado indevidamente por estelionatários. “Os autos revelam a prática da ‘pilantropia’, em que os ideais da caridade e da solidariedade eram, na verdade, utilizados como pano de fundo para a locupletação indevida dos recursos obtidos das doações realizadas via telemarketing”, destaca trecho do despacho assinado pelo promotor de Justiça Alexandre Amaral Nóbrega.
Segundo o MP, a denúncia foi formulada pela direção da Aspadef, que apontou indícios de uma articulação ilícita comandada por Sílvio Renato de Souza Carvalho, proprietário da empresa Solidária Telemarketing e Serviços Ltda. Ainda de acordo com o MP, as associações Novo Horizonte e Nova Vida também fariam parte do esquema, com a missão de angariar recursos usando o nome da Aspadef através de ações de telemarketing. Cerca de 80% do valor arrecadado ficariam com Sílvio Renato e apenas 20% seriam repassados à instituição.
Em meio à suspeita de desvios de recursos, outra irregularidade foi apontada pela Aspadef ao MP: o recebimento de auxílio-doença pela vice-presidente da Associação Nova Vida, identificada como Shirleide do Nascimento Pereira. “Mesmo estando recebendo o benefício do INSS, por exigência do senhor Sílvio Renato (ela) figurou como recepcionista da Associação Nova Vida de setembro de 2015 a maio de 2016”. Tal declaração consta no despacho do MP.
“O aprofundamento das investigações igualmente revelou que o senhor Sílvio Renato, apesar de formalmente aparecer como um prestador de serviços, era quem na verdade ditava a condução das atividades desenvolvidas pelas associações, atuando como se presidente delas fosse, em especial da Associação Nova Vida, cuja presidente, a senhora Ísis Raquel Costa da Silva, em seu segundo depoimento prestado à Promotoria das Fundações, resolveu esclarecer como de fato as coisas aconteciam, passando, após isso, a ser perseguida pelo senhor Sílvio Renato e pelas outras pessoas por ele indicadas a participarem da mencionada associação”, afirma o promotor.
Dentre as providências adotadas pelo MP estão o encaminhamento do fato para apuração de responsabilidade criminal dos envolvidos e comunicação ao Ministério do Trabalho e Previdência Social para que seja apurada fraude pelo recebimento de auxílio-doença por parte da vice-presidente da Associação Nova Vida.
Caso de polícia
O presidente da Aspadef, Íber Câmara, informou que, além da ação no Ministério Público Estadual, o caso foi parar na Delegacia de Defraudações. “O processo já está praticamente concluído. Todo o grupo, incluindo o chefe, foi indiciado por estelionato. Vamos esperar para ver se o promotor vai apresentar a denúncia ou não”, declarou.
Segundo o presidente, há dois anos as pessoas citadas no processo prestavam serviço à Aspadef e ficavam com cerca de 70% das doações. “Eles queriam aumentar para 80% e eu não aceitei. Eles romperam o contrato e fundaram a Associação Nova Vida e passaram a pedir doações como se fosse uma sucessão da Aspadef”, explicou Íber.
O outro lado
A reportagem tentou contato com Silvio Renato através do contato telefônico que está relacionado à Solidária Telemarketing em busca feita na internet (83) 9 8857-1620, mas a operadora de telefonia informa que o número “não recebe chamadas ou não existe”.
JP Online
Valéria Sinésio