domingo, 3 de julho de 2016

Falta material para exames ginecológicos em PSFs de João Pessoa


A falta de equipamentos nos PSFs afeta não somente o atendimento básico aos cidadãos, mas também dificulta a realização de exames e até o diagnóstico de alguns tipos de câncer

Os Postos de Saúde da Família de João Pessoa estão sem material para a realização de exames básicos para a saúde da mulher, como é o exemplo do Papanicolau, ou citológico, que diagnosticam o câncer de colo do útero. A informação veio através de denúncias à equipe do ClickPB e foi confirmada por funcionários da unidade do PSF Timbó II, que atestaram que o material não faltava apenas no local, mas em toda a rede.

A falta de equipamentos nos Postos de Saúde da Família (PSF) afeta não somente o atendimento básico aos cidadãos, mas também dificulta a realização de exames e até o diagnóstico de alguns tipos de câncer. O exame para detecção do câncer do colo do útero, que é o segundo tipo que mais mata no mundo, requer a utilização de um espéculo vaginal. O material, no entanto, está em falta nos PSFs de João Pessoa, de acordo com denúncias.

O Posto de Saúde da Família Timbó II, por exemplo, informou que está sem o material para realizar o exame de Papanicolau e não existe sequer previsão para a reposição. Já o PSF do Costa e Silva informou que não está realizando o exame de prevenção do câncer de colo do útero porque a sala está interditada e não há previsão de quando voltará a ser feito.

Em outras unidades consultadas, a enfermeira responsável estava de férias ou de licença e, por isso, o exame não estava sendo feito, como em Cruz das Armas e no bairro Ernesto Geisel. A reportagem do ClickPB encontrou apenas dois PSFs dentre os consultados via telefone que estão realizando o exame, nos bairros de Mandacaru e Tambiá.

Em uma rápida pesquisa na internet, uma caixa com cem espéculos descartáveis foi encontrada ao preço aproximado de R$ 150. O preço do material para a realização do exame é incomparavelmente menor do que o que será gasto pelo sistema de saúde pública no tratamento.

Kit do espéculo vaginal

De acordo com Tarcísio Campos, presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba (SIMED-PB), “a deficiência na atenção básica é grave”. “Os exames que eram pra ser feitos na atenção básica justamente pra diminuir a procura nos hospitais não está acontecendo”, o que acaba atrasando o resultado e prejudicando o sistema.

Sem o material para a realização do exame, a detecção do câncer fica mais difícil, já que muitas mulheres têm apenas o sistema público como socorro. “Só se pode colher a lâmina para fazer o diagnóstico do câncer do colo do útero se você tiver o espéculo para examinar e o espéculo é descartável, não pode usar o mesmo em todas as pacientes”.

O diretor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina na Paraíba, João Alberto, afirmou que a instituição sempre está realizando fiscalizações nos PSFs e sempre se depara com situações problemáticas. “Sempre está faltando médico, algumas vezes faltando medicamento, dificuldade no encaminhamento de pacientes, lentidão na realização de exames”, enumera o diretor de fiscalização, que ainda lembra a recorrente falta de material, inclusive para exames obrigatórios da saúde básica, como o próprio Papanicolau. “Vez ou outra a gente encontra alguns PSFs deficitários em relação a material e medicamento”, explica.

A falta de material de trabalho nas unidades básicas de saúde demonstra não apenas descompromisso com a população, mas também uma má gestão da saúde. A dificuldade na prevenção do câncer atesta o desrespeito à saúde da mulher e até uma afronta aos princípios constitucionais.

A advogada Andréa Costa do Amaral Mota, que é presidente da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraíba, lamenta que a situação de falta de material e equipamento para atendimento na saúde pública seja um problema recorrente em todo o país, mas enfatiza que “o cidadão tem direito sim à assistência, a saúde, é direito do cidadão, é previsto constitucionalmente”. Caso o atendimento nas unidades de saúde da rede pública não seja conseguido, Andréa aconselha que o cidadão procure o Procon, o Ministério Público e até mesmo a Justiça para conseguir resolver a situação.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de João Pessoa se comprometeu a enviar esclarecimento ao- 

ClickPB ainda hoje.