Governo estadual se defende e diz que não falta acompanhamento sobre o caso
specialistas dizem que gestão Paulo Câmara precisa criar um gabinete para gerenciamento de crise sobre tudo o que envolve a investigação da morte de Paulo César Morato
Divulgação/SEI
Franco Benites
As investigações sobre a morte do empresário Paulo César Morato, implicado na Operação Turbulência, da Polícia Federal, são motivos de discordância dentro da gestão Paulo Câmara (PSB). Para alguns integrantes da base aliada do governador, o Estado pecou ao não criar um gabinete específico de gereciamento de crise que evitasse o vazamento de dados sobre o assunto de dentro da secretaria de Defesa Social (SDS) e a divulgação de informações desencontradas para a imprensa.
Interlocutores do governador e integrantes da Frente Popular preocupados com os efeitos que a Operação Turbulência pode ter sobre o PSB e partidos aliados nas eleições municipais afirmam que falta uma coordenação mais eficaz do assunto. As críticas, sempre sob reserva, partem também de profissionais com experiência em marketing político e na área de comunicação do setor público.
Um desses especialistas cita o episódio em que a secretaria de Defesa Social informou por meio de uma nota a causa da morte de Paulo César Morato. O documento era repleto de termos técnicos e a assessoria da pasta orientou os repórteres a procurarem no Google mais informações sobre a substância que matou o empresário. “Em um caso como esse, a redação de qualquer comunicado tem que sair de dentro do Palácio do Campo das Princesas”, avaliou a fonte.
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As ações da SDS não pegaram bem dentro do governo e pipocaram reclamações sobre a forma como o processo vem sendo conduzido. O secretário estaudual de Imprensa, Ennio Benning, procurou preservar a assessoria de comunicação da Defesa Social. “Qualquer procedimento tomado pela SDS será avaliado internamente. O importante é ter um desfecho transparente e isento de todo o episódio”, disse.
O secretário estadual de Imprensa também negou que tenha havido a convocação e a consequente desmobilização de uma coletiva de imprensa por parte da secretaria de Defesa Social como os jornais noticiaram. “A coletiva é convocada por pauta e nenhuma foi enviada (aos veículos de comunicação)”, declarou.
Entre as críticas, é recorrente a cobrança pela criação de um gabinete de gerenciamento de crise. A avaliação é que esse grupo existiu nas gestões Eduardo Campos, Mendonça Filho (DEM) e Jarbas Vasconcelos (PMDB) e resultou na redução de danos para a imagem do governo. “O comitê precisa ter legitimidade junto ao governador, não pode ser muito fechado, mas também não é uma coisa para amadores”, aponta um especialista em anonimato.
A informação dada por quem viveu de perto o governo Eduardo é de que o gabinete de gerenciamento de crise era composto por Evaldo Costa (então assessor de comunicação), Diego Brandy (marqueteiro com serviços prestados ao PSB), Renato Thièbaut (hoje chefe do Gabinete de Projetos Estratégicos do governo) e Geraldo Julio (atual prefeito do Recife e responsável pela área de Planejamento da administração eduardista).
A secretaria de Imprensa informou que, de fato, não há um gabinete de crise e ressaltou que nem por isso a administração Paulo Câmara está descoberta. “O governo já dispõe de um núcleo de gestão, que se reúne periodicamente. Cada caso é um caso e não existe esse cerimonialismo que as pessoas imaginam. Boa parte do núcleo está no Palácio ou bem próximo como a Fazenda, Planejamento, Casa Civil e Procuradoria Geral do Estado (PGE)”, defende o titular da pasta, Ennio Benning.
SOBROU PARA A IMPRENSA - As críticas dos governistas à comunicação da gestão Paulo Câmara existem, mas também há reclamação sobre o trabalho da imprensa e sobre a Polícia Federal, responsável pela Operação Turbulência. Um aliado do governador, que preferiu não se expor, disse que a imprensa pernambucana exagerou ao tratar das investigações sobre a morte de Paulo César Morato. “Há coisas que foram publicadas que mais parecem um panfleto. É o que em Direito se chama de libelo acusatório”, citou.
O interlocutor de Paulo Câmara falou da imprensa em geral e discordou de alguns apontamentos feitos pelos veículos de comunicação. Entre eles, o silêncio do PSB estadual sobre as notícias mais recentes envolvendo a morte de Paulo César Morato. “O partido não tem que se pronunciar sobre isso”, declarou o governista, ressaltando que a postura da legenda é correta ao esperar o final das investigações para fazer qualquer análise.
Esse mesmo político disse que os jornalistas precisam ter em mente que a “Polícia Federal não é Deus, não é dona da verdade” e que a memória de Eduardo Campos deve ser preservada porque ele “só fez bem a Pernambuco”. A avaliação, feita sob reserva, é de que o ex-governador não tem culpa porque a aeronave que usou em sua campanha presidencial tem relação com um grupo acusado de movimentar recursos financeiros de forma ilícita.
Outra leitura governista é que é preciso cuidado com a partidarização das entidades da polícia, citando a disputa entre peritos e papiloscopistas da Polícia Civil.
jconline